quinta-feira, 14 de julho de 2011

TdL em Mutirão 7

Cidadania da juventude e espiritualidade


Mesmo que haja pessoas que ainda pensam que uma coisa nada tem a ver com a outra, todas as grandes e antigas tradições espirituais procuram ligar o céu com a terra; o caminho de auto-aperfeiçoamento com a missão de construirmos juntos um mundo mais justo e solidário. E a Bíblia chama especialmente as pessoas jovens para esta vocação. No primeiro testamento, quando quis solidificar a experiência do reinado, Deus chamou Davi, o mais jovem dos sete filhos de um pastor, para assumir o encargo de chefiar o povo. Desde então, o povo descobriu que Deus preferia jovens para cumprir as tarefas mais profundas de serviço ao povo. No Novo Testamento, Jesus declarou que o mais novo e o último seria o primeiro no reino de Deus.

De fato, o termo “cidadania” é novo e não aparece nos antigos livros sagrados. Entretanto, o que ele denota e a realidade para a qual aponta está presente sim como dignidade humana e responsabilidade de cada pessoa diante de si mesma, dos outros e do Espírito, Mãe da Vida e fonte de amor universal. O Budismo fala na vocação humana para a Compaixão como grande solidariedade. O Islã em ser dócil à misericórdia divina no trato com todas as criaturas. O Judaísmo fala de amor ao próximo e na construção de uma sociedade justa. O Cristianismo procura desenvolver isso como missão de testemunhar que somos todos e todas cidadãos do reinado divino no mundo.

Os antigos livros da Bíblia insistem que todo ser humano tem uma dignidade real. É como um povo de sacerdotes que representa Deus para o universo e, ao mesmo tempo, eleva toda criação até Deus. Os cristãos herdaram das escrituras judaicas esta noção de cidadania do reino. Jesus viveu em um mundo no qual a maioria do povo pobre era excluída da participação social e política. E como a sociedade era patriarcal, também os jovens eram excluídos. Conforme o evangelho de Mateus, a primeira palavra pública que ele pronuncia é justamente o anúncio de que os empobrecidos serão felizes porque terão plena cidadania no reinado divino neste mundo, os aflitos encontraram conforto, os sem-terra e sem teto possuirão toda a terra como herança (Mt 5). Ele mostrou sua predileção pelos pequenos que no seu tempo significavam os empobrecidos, mas também os jovens.

Muitas vezes na história, estas palavras de Jesus foram lidas e interpretadas como se ele dissessem: “aceitem sofrer e ser marginalizados neste mundo que eu lhes prometo a pátria celeste”. Entretanto, ele ensinou os discípulos e discípulas a pedir não para irem ao reino dos céus (como um grupo religioso que conheço costuma orar: Vamos ao vosso reino) e sim ele insistiu que pedíssemos: “Venha (para cá entre nós) o teu reino”. Esta é a tarefa de toda pessoa que busca uma verdadeira espiritualidade: saber-se cidadão do mundo inteiro, para lá dos nacionalismos e das divisões que se erguem entre nações e raças e, lutar pacificamente para que sejam respeitados os direitos de cidadania de todas as pessoas. Nos anos 70, no Centro-oeste, os lavradores costumavam cantar: “Queremos terra na terra. Já temos terra no céu”. Ser cidadãos do céu como diz Paulo na carta aos filipenses (Fl 3) nos garante o direito de ser plenamente cidadãos\ãs da terra.


Marcelo Barros

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