sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TdL em Mutirão 33

A IGREJA COMO COMUNHÃO.

O objetivo deste artigo é apresentar e entender a Igreja como comunhão.

A expressão Igreja (do grego εκκλησία [ekklesia] e do latim ecclesia) nasce da palavra hebraica qahal (ou qehal) conforme a tradução grega do Primeiro Testamento, a Septuaginta. Ekklesia significa, o ato da reunião e a própria comunidade reunida, a comunidade toda do povo de Deus. No Segundo Testamento, ekklesia significa o novo povo, o verdadeiro Israel no meio de nós enquanto comunidade reunida, portanto, ela é acontecimento e instituição. Ela é empregada três vezes em Mateus, treze vezes no Apocalipse, uma vez na epístola de Tiago; sem dúvida é frequentemente encontrada nos Atos dos Apóstolos (que acrescentam muitas vezes a expressão tou Theou – Deus é quem conclama e reúne toda a comunidade e nela se faz presente) e nas epístolas paulinas que também utiliza-a para designar a comunidade local e a Igreja universal.

A Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II diz: Cristo, Mediador único, constituiu e sustenta indefectivelmente sobre a terra, como organismo visível, a sua Igreja santa, comunidade de fé, de esperança e de caridade, e por meio dela comunica a todos a verdade e a graça. Contudo, sociedade dotada de órgãos hierárquicos e corpo místico de Cristo, assembléia visível e comunidade espiritual, Igreja terrestre e Igreja já na posse dos bens celestes, não devem considerar-se como duas realidades, mas constituem uma realidade única e complexa, em que se fundem dois elementos, o humano e o divino. Não é, por isso, criar uma analogia inconsistente comparar a Igreja ao mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão vivo de salvação, a ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu corpo místico (LG,1997, p.110).

O conceito de comunhão (koinonia), manifestado nos textos do Vaticano II, mostram a profundidade do Mistério da Igreja como chave de leitura para a eclesiologia católica atual.

O mistério da Igreja deve suscitar uma reflexão teológica a partir do entendimento da comunhão, onde se admite novas e profundas pesquisas. Nesse sentido Pié-Ninot irá dizer: Pouco a pouco se evidenciou que a visão eclesiológica do Vaticano II comporta um conceito renovado de communio, embora a Igreja jamais tenha sido definida desse modo. Esse conceito tem um significado básico de comunhão com Deus, da qual se participa por meio da palavra e dos sacramentos. Esse tipo de comunhão é que leva à comunhão dos cristãos entre si e se realiza concretamente na communio das Igrejas locais fundadas mediante a eucaristia. Chega-se assim ao termo técnico de communio, conceito e realidade fundamental da Igreja antiga. (PIÉ-NINOT, 1998, p.30).

A Congregação para a Doutrina da Fé assim se expressa: O conceito de comunhão está "no coração da autoconsciência da Igreja", enquanto Mistério da união pessoal de cada homem com a Trindade divina e com os outros homens, iniciada na fé, e orientada para a plenitude escatológica na Igreja celeste, embora sendo já desde o início uma realidade na Igreja sobre a terra. (...) Para que o conceito de comunhão, que não é unívoco, possa servir como chave interpretativa da eclesiologia, deve ser entendido no contexto dos ensinamentos bíblicos e da tradição patrística, nos quais a comunhão implica sempre uma dupla dimensão: vertical (comunhão com Deus) e horizontal (comunhão entre os homens). É essencial à visão cristã da comunhão reconhecê-la, antes do mais, como dom de Deus, como fruto da iniciativa divina cumprida no mistério pascal (CDF, 2011).

É preciso compreender e experimentar uma comunhão entre todos os fiéis para que de fato participem da natureza divina, do Pai, do Filho e do Espírito Santo e reafirmar que somos a Igreja de Cristo mediante a fé e o batismo: una, santa, católica e apostólica.


Emerson Sbardelotti

Estudante do Bacharelado em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo (IFTAV); Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo, Vitória – ES; Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari – ES; Autor de O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP (www.cpp.com.br), 2005; Autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI (www.cebi.org.br), 2007; Agente de Pastoral Leigo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Cobilândia, Vila Velha – ES; Assessor para as áreas de Mística, Espiritualidade, Juventude, Bíblia e Liturgia. Correio eletrônico: prof.poeta.emerson@gmail.com.


DOCUMENTOS DO Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.

PIÉ-NINOT, Salvador. Introdução à Eclesiologia. 5ª.ed. São Paulo: Loyola, 1998.


CONGREGAÇÃO PARA a Doutrina da Fé. Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão. Disponível em < http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_28051992_communionis-notio_po.html>. Acesso em 15 out. 2011.









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