terça-feira, 18 de outubro de 2011

TdL em Mutirão 34

GÊNESE, CRISE E DESAFIOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO


I. A gênese


A Teologia da Libertação (TdL) nasce na América Latina e Caribe num contexto histórico bem definido. Três ordens de fatores marcam e explicam sua gênese e seu desenvolvimento. Primeiramente, numa perspectiva sócio-econômica e política, grande parte dos países latino-americanos e caribenhos, sofria sob o peso da ditadura militar. Acrescida da dependência econômica em relação ao Primeiro Mundo, os regimes de exceção contribuem poderosamente para agravar as desigualdades sociais que se verificam no interior dos países periféricos do Terceiro Mundo, bem com entre estes e os países centrais. Nesse estado de coisas, opressão política e dívidas sociais crescentes constituíam duas faces da mesma moeda. As nações subdesenvolvidas, embora formalmente independentes, na verdade viviam sob a égide de uma nova colonização, ou melhor, jamais haviam saído dela.
Em segundo lugar, desde uma perspectiva científica, o instrumental de análise social marxista jogava luz sobre essa realidade de domínio político e econômico. Na medida em que disseca a partir de suas entranhas o funcionamento da acumulação capitalista, a teoria marxista põe a nu as contradições do liberalismo econômico. Basta uma olhada rápida às obras de Gustavo Gutierrez, Juan Luis Segundo, Clodovis e Leonardo Boff, Jon Sobrino, Hugo Asmann, Ellacuría – entre tantos outros – para dar-se conta de que, em termos de análise social, implícita ou explicitamente, elas se guiam pela matriz teórica do marxismo. Convém não esquecer, porém, que os autores da TdL recorrem a essa matriz teórica muito mais para entender a gênese da opressão social, do que na busca de um projeto social alternativo. Neste caso, a orientação e a luz partem antes da Palavra de Deus.
A terceira ordem de fatores que ajuda a entender o surgimento da TdL está vinculada ao campo eclesial. Cinco aspectos desta inflexão eclesial devem ser destacados. Primeiro, a experiência da Ação Social Católica nos anos 50 e 60, especialmente entre a classe operária francesa. A difusão do método VER-JULGAR-AGIR mergulha aí suas raízes, ajudando a entender os problemas sociais através de uma pedagogia crítica, por um lado, e de uma prática transformadora, por outro.
Depois, temos a realização do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), como tentativa bem sucedida de a Igreja entrar em diálogo aberto com o mundo moderno. Tratava-se, em poucas palavras, de afinar o compasso com as descobertas da ciência e com o progresso tecnológico. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no Mundo de Hoje, traça um retrato da realidade, em suas “mudanças rápidas e profundas”, que ainda hoje mantém grande atualidade.
O terceiro aspecto refere-se à II Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, realizada na cidade de Medellín, Colômbia, no ano de 1968. Estamos em plena vigência das ditaduras militares. O tema – La Iglesia en la actual transformación de la América Latina, a la luz del Concilio Vaticano II – retrata um contexto de grande efervescência social e política. Os bispos cunham a expressão “violência institucionalizada” para sublinhar que “um surdo clamor brota de milhões de homens, como injustiça que clama aos céus”. Falam também da “vigência de estruturas inadequadas e injustas” que pesam duramente sobre os povos do continente.
O aspecto de número quatro representa a prática libertadora das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) em vários países da América Latina e do Caribe. Inspiradas no método Ação Católica, por uma parte, e por outra, estimuladas pelas conclusões do Vaticano II e do Documento de Medellín, as comunidades cristãs passam a uma militância ativa pela transformação das estruturas sociais injustas. A leitura da realidade à luz da Palavra de Deus e a busca de soluções concretas para os problemas reais definem sua prática religiosa frente à dominação política e à pobreza econômica. Esse “novo jeito de ser igreja” realiza entre a fé e o compromisso social um casamento indissociável e rico em conseqüências. Vale sublinhar que essa “opção preferencial pelos pobres” tem na hierarquia amplo respaldo.
E chegamos assim ao quinto e último aspecto a ser lembrado: um discurso social fortemente combativo, acompanhado de uma prática conseqüente, seja por parte de algumas conferências episcopais latino-americanas e caribenhas, seja por parte de alguns bispos isolados. No caso das conferências, o destaque vai para o Brasil, onde o enfrentamento à ditadura militar produziu documentos de uma veemência profética surpreendente. Quanto aos pastores mais engajados, vale apontar os nomes de Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Oscar Romero – para só citar alguns.
As três ordens de fatores e os cinco aspectos eclesiais, combinados entre si, estão na raiz da Teologia da Libertação. Esta nasce e se desenvolve como uma reflexão crítica a partir da práxis libertadora dos cristãos. Ou seja, num primeiro momento desenrola-se em inúmeros grupos, movimentos e pastorais sociais a luta pela libertação; só depois, num segundo momento, é que se desenvolve a reflexão teórica. Esta, no decorrer do tempo torna-se simultaneamente causa e efeito de novas lutas e novas sínteses reflexivas. Instala-se o que Juan Luis Segundo irá chamar de círculo hermenêutico: a consciência sobre a realidade opressiva leva a uma prática libertadora, a qual alimenta uma reflexão teórica que, por sua vez, retroage sobre a realidade, renovando e aprofundando a ação social e política.
Esse esquema de dupla face – práxis transformadora e reflexão teórica – ganhou impulso sob as botas dos militares. Não é à toa que a perseguição política e o martírio acompanharam de perto essa nova forma de viver a fé cristã. Militantes de base, agentes pastorais e teólogos, às dezenas e centenas, sofreram no corpo e na alma o peso e o impacto da ação repressiva.

 
II. A crise

 
No final dos anos 70 e início dos 80, os regimes de exceção começam a dar lugar a um processo democrático lento e gradual. Este terá uma trajetória desigual e conturbada, de acordo com o contexto específico de cada país. À medida que esse processo se afirma, as CEBs e a TdL tendem a ofuscarem sua perspectiva crítica e a diminuir sua combatividade social e política. Tanto fora como dentro da Igreja, ambas perdem força de incidência. No caso particular do Brasil, há um agravante. Se, por um lado, é verdade que CEBs e TdL constituem um dos igarapés que engrossaram o rio caudaloso do Partido dos Trabalhadores e da eleição do governo Lula, por outro também é certo que seus integrantes sofrem grande perplexidade diante da aliança desse governo com setores historicamente retrógrados da sociedade brasileira.
Essa crise, aliás, ultrapassa de muito os limites da Igreja. Ela irá marcar de uma forma generalizada todas as organizações sociais de esquerda, a partir da segunda metade dos anos 80, retornando com mais ênfase diante da timidez do governo Lula em enfrentar as mudanças estruturais. Mudanças que, não custa lembrar, constituíam as principais bandeiras de tais organizações.
É neste contexto de crise que vêem à tona algumas lacunas da prática das CEBs e da reflexão teórica da TdL que, a bem da verdade, já se encontravam em germe desde a sua origem. Latentes na gênese, aparecem agora à plena luz do dia. Entre elas, gostaria de apontar as cinco principais: matriz teórica insuficiente, conceito redutivo de liberdade, dificuldade de incorporar o discurso do meio ambiente, problemas de linguagem, temas transversais. Vejamos uma por uma.
1. Como já vimos anteriormente, a análise da realidade com que operam os representantes das CEBs e da TdL tem como base a matriz teórica do instrumental marxista. Esta matriz, como é notório, prima pela análise social, econômica e política da sociedade. Aliás, desde os primórdios da economia capitalista, tanto a direita quanto a esquerda irão desenvolver uma teoria marcadamente economicista, tendo como pano de fundo a racionalidade aplicada do iluminismo. Tanto Adam Schmidt e Ricardo, por uma parte, como Marx e Engels, por outra, trabalham com os dados da produção, comercialização e consumo.
Importada para a América Latina, essa matriz se revela insuficiente e às vezes até inadequada para explicar o “caldeirão” cultural em que se transformou o continente latino-americano e caribenho. Ela não dá conta de captar toda a riqueza e a mestiçagem profunda das três raças que lhe deram origem. Tende a desconhecer, entre outras coisas, a inegável contribuição negra e indígena para a formação cultural de nossos povos.
Essa lacuna necessita ser preenchida com novos dados da história do continente. Não que se deva jogar pela janela o instrumental de análise marxista. Ele nos ajudou e continua nos ajudando a compreender as estruturas sociais de concentração, pobreza e exclusão social. Mas, a essa matriz teórica, temos de incorporar novas informações, sobretudo de caráter antropológico, religioso, psicológico, etc. A dimensão econômica, política e social não conseguem explicar tudo. Há outras dimensões do ser humano que devem ser contempladas. Aliás, a experiência prática ensina que não basta resolver os problemas de ordem social para criar uma sociedade alternativa. Há questões de outra natureza e de maior profundidade que devem ser levadas em conta, se quisermos entender a alma dos povos latino-americanos.
2. O conceito de liberdade que se encontra na visão das CEBs e da TdL, como aliás de outros setores da esquerda latino-americana, muitas vezes se reduz â noção de libertação. Isto se explica, em parte, pelo fato de terem se desenvolvido debaixo da repressão militar. Era urgente liberar-se das correntes, da pobreza, do machismo, etc. Não é sem razão que se buscava no Livro do Êxodo um cimento religioso e ideológico para o combate à opressão. Ocorre que a noção de libertação constitui apenas um lado do conceito mais amplo de liberdade, a liberdade de. Este tem que ser complementado com o outro lado, isto é, a liberdade para. E é justamente aqui que as coisas se complicam.
Voltando ao caso do povo hebreu na experiência do Egito, quando se tratou de dar um conteúdo programático à liberdade conquistada, já na travessia do deserto, bateu-lhes a saudade do Egito. Ali, embora submetidos ao Faraó, tinham “as panelas cheias e não passavam fome”. Ou seja, preferem a escravidão à liberdade, desde que não falte o que comer. A liberdade, quando exige trabalho e responsabilidade, converte-se num fardo pesado. No caso dos romanos, como bem sabemos, a escravidão era compensada com “pão e circo”.
Aqui há lições a serem aprendidas. A noção restritiva de liberdade, herança da época dos militares, torna muitas vezes imaturas algumas práticas de esquerda. Somos peritos em atirar pedras sobre o telhado de vidro das oligarquias históricas, e vemos fazê-lo, sem dúvida. Mas quando se trata de elaborar um plano de ação, um programa de governo ou um projeto de sociedade, as idéias se embaralham. O vigor teórico, tão vigoroso na crítica, perde força e alcance quando se trata de construir uma via alternativa.
3. O discurso ecológico, felizmente, vem ganhando espaço nos movimentos sociais e organizações de esquerda. Mas em muitos casos, ainda aparece como um tema “transversal”, o que, não raro, é sinônimo de secundário. É preciso reconhecer que houve avanços em relação a algumas décadas atrás, quando a preocupação com o meio ambiente era considerada “coisa de quem não tem o que fazer” ou dos “ambientalistas europeus”. Mas há muito caminho a ser feito.
Hoje cresce a consciência de que ou protegemos as diversas formas de vida do planeta, ou perecemos junto com ele. Nas análises do modelo neoliberal, cada vez mais entram a fazer parte itens como a devastação do meio ambiente, o uso indiscriminado dos recursos naturais, o aquecimento global, a contaminação das águas e do ar, o desenvolvimento ecológica e socialmente sustentável, e outros temas correlatos. O modelo econômico não é apenas concentrador e excludente, é também predatório em relação à biodiversidade. Diante dos alertas cada vez mais alarmantes dos cientistas, dos movimentos ambientalistas e das organizações não governamentais, o prefixo “bio-vida” passa a fazer parte de qualquer estudo sobre a realidade.

Cabe aqui um olhar ao Livro do Gênesis, em que se narra que Deus criou a terra e todas as coisas como “nossa casa” e “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Mais tarde, Deus estabelece uma aliança com seu povo, simbolizada pelo arco-íris. Vale sublinhar que a aliança não leva em conta apenas os homens e mulheres, mas, como diz textualmente a narração, “com todos os seres vivos” e “com todas as gerações futuras”. E o texto insiste: “com tudo o que vive sobre a face da terra”. Ou seja, o Deus Criador preocupa-se com a vida em todas as suas formas, por um lado, e, por outro, com a preservação da vida para as gerações vindouras (Gn 9,12-17).
4. Na prática das CEBs e das Pastorais Sociais, como também no estudo da TdL, a linguagem tornou-se um desafio cada vez mais premente. Entre o universo popular e o universo do agente intermediário, não raro se abre um abismo quase intransponível. Enquanto o primeiro se revela rico em imagens, “causos”, histórias, mímica e uma rica coreografia de gestos, o segundo prima pela lógica acadêmica da racionalidade científica. Um fala predominantemente com o corpo e com o coração, outro com a cabeça. Não que isso seja problemático em princípio. Ambas as formas de linguagem e de comunicação são legítimas e necessárias. O problema é que muitas vezes uma não entende nem é entendida pela outra. Caminham em linhas paralelas. É como se um lado estivesse sintonizado em AM e outro em FM.
O desafio é estabelecer pontes entre os dois universos. Isso requer capacidade de escuta e compreensão, particularmente por parte dos agentes de pastoral e dos estudiosos da teologia. Requer uma aguda penetração no mundo cultural e na alma da população, reconhecimento e valorização de seus valores, coisa de que nem sempre somos capazes. É necessário dar-se conta que os ouvidos da universidade e os ouvidos das ruas são distintos e exigem formas apropriadas de comunicação. Enquanto na rua funciona mais o canto, a música, a dança e a poesia, na sala de aula é a análise racional que prevalece. Confundir estes dois ambientes é bloquear a comunicação.
Também não resolve simplesmente passar a palavra ou o microfone ao povo. Isso pode gerar situações altamente constrangedoras para ambas as partes. Se é verdade que a palavra não deve ser monopólio dos entendidos, também é verdade que existem outras formas de se comunicar. A linguagem verbalizada é apenas uma parte, e bem reduzida, do processo integral da linguagem. O que é necessário é abris espaços para novas formas de linguagem, nas quais os representantes do povo se sintam “mais à vontade e mais em casa”.
5. Já vimos como o meio ambiente é tratado às vezes como “tema transversal”. Também vimos que isso é uma forma de reduzi-lo a um plano secundário. O mesmo se constata com outros temas, mais relegados ainda à condição ambígua de “transversais”. Sublinhemos apenas quatro: gênero, raça, opção sexual e democracia na Igreja. Todos eles, em geral, comparecem em nossas preocupações iniciais, reaparecem nas propostas finais de nossas assembléias e encontros, mas dificilmente chegam a figurar no primeiro plano das pautas aprovadas. Numa palavra, apenas tangenciam os temas de fundo.
Daí a dificuldade de compaginar um discurso libertador, na arena política, com uma prática autoritária, no âmbito individual ou familiar. Daí também a persistência em nossa práxis de alguns vírus, como autoritarismo, centralismo, corporativismo, personalismo, e outros “ismos” igualmente nocivos. Daí, ainda, a falta de companheirismo entre homens e mulheres, no interior de nossas atividades, como também de verdadeira democratização das decisões. Daí, enfim, o grande estranhamento que manifestamos, implícita ou explicitamente, diante de algumas minorias marcadas por diferentes opções sexuais.
E nem precisaria acrescentar a persistência de um racismo dissimulado ou declarado, mesmo entre aqueles que propugnam por uma sociedade nova. Apesar de todo nosso conhecimento das raízes históricas latino-americanas e da escravidão negra, ou justamente por causa disso, muitas vezes nossa prática consciente ou inconsciente aviva o estigma da marginalização na pele do povo negro. Deliberadamente ou não, fazemos sangrar feridas que em vão tentam cicatrizar.
Quanto ao tema da democracia no interior da Igreja, basta lembrar a presença desproporcionada da mulher na base e no topo da pirâmide. Enquanto nas comunidades eclesiais e grupos de base elas representam a maioria absoluta, às vezes carregando sobre os ombros todo peso da responsabilidade, à medida que se sobe nas instâncias decisórias, elas vão se tornando cada vez mais raras, até desaparecer por completo no corpo da hierarquia.



III. Os desafios



A análise da gênese e da crise da Teologia da Libertação, ao fazer emergir as lacunas que estavam ocultas, trazem novos desafios. Diante deles, há posturas diversas, algumas claramente contrastantes. Enquanto uns simplesmente abandonam a TdL e outros se radicalizam ainda mais em seu estudo, uma boa parte procura evitar esses dois extremos, tratando de redefinir seus conteúdos e métodos. Creio que neste caso a “terceira via” seja a mais indicada.
De fato, abandonar a TdL hoje é desconhecer a necessidade de prosseguir no combate à exploração exacerbada do ser humano, da biodiversidade e da natureza em seu conjunto. As vítimas do neoliberalismo e da economia globalizada, hoje, não são menos numerosas nem menos sacrificadas do que, ontem, as vítimas dos regimes de exceção. Qualquer tipo de ditadura, seja militar ou do mercado, deve ser combatida por quem se diz cristão. Não podemos esquecer que antes da “teologia” vem a “libertação”. Importa mais esta do que aquela. Mas tampouco podemos esquecer que uma reflexão teórica e sistemática sobre a práxis libertadora, em última instância, ilumina, orienta e fortalece a própria práxis.
Por outro lado, persistir num radicalismo gratuito é desconhecer que o contexto histórico dos regimes democráticos, ainda que se trate de democracia formais e cheias de contradições, é diferente dos regimes de exceção. Novas perguntas emergem e exigem respostas igualmente novas. Embora o conteúdo de fundo e o método de interpretação hermenêutica sigam inalteráveis, mudam muitos conteúdos de caráter circunstancial e muda a pedagogia da organização social. Os debates da TdL, sob pena de se tornarem anacrônicos, devem acompanhar as mudanças do tempo.
Mas um dos maiores desafios que hoje se coloca à TdL é, sem dúvida, o pluralismo cultural e religioso, como uma das principais características da chamada pós-modernidade. Da mesma forma com que foram banidos na aurora do mundo moderno, os deuses retornam com a força de águas represadas. No contexto de uma mentalidade cada vez mais urbanizada, não só do ponto de vista geográfico, mas em termos culturais, os deuses proliferam por todos os cantos. Estão nas ruas, nos centros comerciais, nos meios de comunicação, na mídia... É verdade que muitos deles se revelam divindades estranhas, pairando nas nuvens, alheias e indiferentes à dores e esperanças humanas. Outros primam pelo individualismo, pelo intimismo privativo ou pela prática da magia. Mas nem por isso merecem menos atenção.
Diante de tal profusão de deuses, qual o rosto do Deus verdadeiro? Como o apóstolo Paulo em Atenas, Grécia, somos novamente confrontados nos areópagos de hoje com o Deus desconhecido. Ou seja, o Deus verdadeiro é sempre desconhecido. Os deuses demasiadamente conhecidos são deuses de fácil manipulação. Aliás, deuses no plural faz lembrar idolatria. O verdadeiro Deus revela e oculta sua face, interpelando permanentemente nossas práticas e crenças, e exigindo que o busquemos junto ao empobrecido.
No testemunho radical da cruz, Jesus descobre o rosto de Deus ao descer ao “inferno do sofrimento humano”, por um lado, e, por outro, ao partilhar das alegrias e sonhos da população mais pobre, indefesa e excluída. Mais do que nunca, a TdL e as CEBs precisam orientar os cristãos deste continente crucificado a renovar a “opção preferencial pelos pobres”. Aliás, o Documento Final da V Conferencia dos Bispos da América Latina e do Caribe é enfático a esse respeito. Mantemos suas palavras no original, em espanhol: “Nos comprometemos a trabajar para que nuestra Iglesia Latinoamericana y Caribeña siga siendo, con mayor ahínco, compañera de camino de nuestros hermanos más pobres, incluso hasta el martirio. Hoy queremos ratificar y potenciar la opción del amor preferencial por los pobres hecha en las Conferencias anteriores. Que sea preferencial implica que debe atravesar todas nuestras estructuras y prioridades pastorales. La Iglesia latinoamericana está llamada a ser sacramento de amor, solidaridad y justicia entre nuestros pueblos” (nº 410).

Pe. Alfredo J. Gonçalves


Fonte: http://www.adital.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário