segunda-feira, 10 de outubro de 2011

TdL em Mutirão 31

UM CINQUENTENÁRIO PERIGOSO


Para qualquer instituição, todo projeto de reforma soa como ameaça. Até na vida humana, as fases de mudança são épocas de crise e dor. Nestes dias, a Igreja Católica inicia o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, em Roma, no dia 11 de outubro de 1962. Desta semana até o próximo ano, no mundo inteiro, diversos eventos recordarão aquele evento que deu início a uma renovação da Igreja e a pôs em diálogo respeitoso e construtivo com o mundo contemporâneo. Se a Igreja quer ser fiel ao que, hoje, o Espírito de Deus diz às comunidades e ao mundo, deve prosseguir, com coragem e determinação, o diálogo com a humanidade e o trabalho exigente da sua renovação interna para melhor testemunhar o projeto divino neste mundo.

Há 50 anos, na Igreja Católica, o apego a tradições dos séculos medievais e modernos, como se existissem desde os tempos evangélicos, era ainda mais forte do que é hoje. Por isso, a maioria dos católicos estranhou quando, na noite de 25 de janeiro de 1959, o papa João XXIII participou de um culto pela unidade das Igrejas cristãs e declarou ao mundo a decisão de convocar um concílio geral que reunisse todos os bispos do mundo para renovar a Igreja Católica em vista de melhor se adequar ao caminho para a unidade com outras Igrejas cristãs.

João XXIII fazia uma distinção entre a Tradição (com t maiúsculo), memória da fé que vem de Jesus e as tradições (com t minúsculo), costumes que, durante o decorrer dos séculos, foram se juntando como elementos culturais na forma da Igreja ser. Para a renovação, o papa propunha dois critérios: voltar às fontes da fé e, ao mesmo tempo, atualizar o modo de ser e a linguagem da Igreja.

O Concílio Vaticano II teve quatro sessões e se encerrou em dezembro de 1965. Ofereceu à Igreja e ao mundo 16 documentos que foram referência para a renovação eclesial e para o diálogo com o mundo. Desde esta época, o mundo viveu não apenas uma época de fortes mudanças, mas uma verdadeira mudança de época. Mais de 80% das invenções atuais que parecem normais nas casas e na vida das pessoas de hoje não existiam no começo dos anos 60. Em todo o mundo as sociedades de cultura agrária se urbanizaram. Mesmo quem vive no campo, convive com carro, assiste televisão e, de alguma forma, está dentro de uma cultura urbana. Nesta sociedade, o conhecimento experimental é fundamental. A sociedade se organiza através de uma permanente transformação. Um programa, hoje, atual, dentro de seis meses estará desatualizado. Em todas as ciências a mudança é contínua e progressiva. Dentro de um contexto cultural assim, mesmo uma sociedade religiosa não pode se mostrar simplesmente avessa a mudanças.

No Evangelho, ao falar sobre a religião, Jesus diz: “Não adianta colocar remendo novo em roupa velha. O remendo repuxa o pano e rasgão fica maior ainda. Ninguém coloca vinho novo em barris velhos porque o vinho novo arrebenta os barris velhos e tanto o vinho como os barris se perdem. Para vinho novo (que é o evangelho), temos de ter barris novos” (Mc 2, 21- 22). No Apocalipse, a única palavra que é escutada diretamente de Deus é: “Eu sou aquele que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Esta palavra de Deus ressoa hoje para cristãos e não cristãos como um novo apelo para nos abrirmos à permanente mudança inspirada pelo Espírito de Deus nas Igrejas e no mundo.

Marcelo Barros

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