terça-feira, 18 de outubro de 2011

TdL em Mutirão 36

JUVENTUDE: ROSTO DA TRINDADE.


O presente artigo tem como objetivo apresentar a juventude como rosto da Trindade Santa. A face mais bonita do Deus Uno e Trino que armou sua tenda no meio da humanidade, que se revelou, tornando-se assim uma indizível aventura de conhecer a Deus.

É uma grande aventura pensar e falar sobre o Deus de nossa fé, principalmente quando se pode cantar como faz a juventude que se prepara para o Dia Nacional da Juventude – 25 anos da Pastoral da Juventude Capixaba que acontecerá no último domingo do mês de outubro de 2011, na Praça do Papa, em Vitória - ES [1] :

“Dizem que o sol, deixou de brilhar

Que as flores mais belas não perfumam mais

Os jovens teriam deixado de amar

De crer na esperança de poder mudar

Que as lutas e os sonhos o vento espalhou

E que envelheceram as forças do amor

Se fosse assim que digam vocês

De quem é o rosto que ainda sorri

De quem é o grito que nos faz tremer

Defendendo a vida, o modo de ser

De quem são os passos marcados no chão

Unindo o compasso de um só coração

Enquanto existir um raio de luz

E uma esperança que a todos conduz

Existe a certeza, plantada no chão

Ternura e beleza não acabarão

Pois a juventude que sabe guardar

Do amor e da vida não vai descuidar

O rosto de Deus é jovem também

E o sonho mais lindo é ele quem tem

Deus não envelhece, tampouco morreu

Continua vivo no povo que é seu

Se a juventude viesse a faltar

O rosto de Deus iria mudar”.

Sobre a juventude há muitos pontos de vista para analisá-la; indico a classificação mais objetiva e sintética, construída em mutirão, que parte da perspectiva cristã católica e comprometida com milhares de grupos de jovens espalhados pelo Brasil.

As quatro visões de juventude [2] :

1. Visão Biocronológica: define a juventude em termos de idade, etapa de transição. Aquela que tem de 15 a 24 anos [3] .

2. Visão Psicológica: identifica a juventude com os conflitos pessoais em que tem a vida nas mãos, mas não tem o reconhecimento e a capacidade, etapa de construção da identidade: tempo de opções e definições.

3. Visão Sociológica: vê na juventude um grupo social e, dentro dele, diferentes setores.

4. Visão Cultural-Simbólica: procura ver a juventude em seu habitat cultural, produzindo movimentos culturais que acentuam a estética e o lúdico.

Para DICK (2003), estaria faltando, entre essas visões uma quinta: a Visão Jurídica ou Legal de Juventude – aquela que impera em muita leitura ou abordagem a respeito do tema [4] .

No Brasil, tanto as diretrizes da Secretaria Nacional de Juventude como o Plano Nacional de Juventude, definem como jovens aqueles que têm entre 15 e 29 anos. Mas o que é juventude?

LIBANIO (2004), diz que há um olhar duplo: o da sociedade para o jovem e o do jovem para si mesmo. A sociedade olha o jovem e o considera em fase importante do desenvolvimento de sua personalidade. Mas também, o vê como alguém subordinado e ainda submetido a uma marginalização do trabalho e das funções políticas. O jovem olha a si mesmo e entra numa idade de apropriação das diferenças que o afetam no campo sociopsicológico, ao mesmo tempo que se prepara para enfrentar situações adultas diferenciadas, passando do mundo particularista da família para o mundo universalista do trabalho e das relações sociais. Os grupos de jovens ajudam a integrar o modelo de família com a vida em sociedade. A escola surge como lugar intermediário da socialização entre a sociedade e a família [5] .

A CNBB (2007), afirma que, conhecer os jovens é a condição prévia para evangelizá-los. Não se pode amar nem evangelizar a quem não se conhece. Se busca conhecer a geração de jovens cuja evangelização se apresenta como um dos grandes desafios da Igreja neste início do século XXI. Destaque para a subjetividade, para as novas expressões da vivência do sagrado e a centralidade das emoções, enquanto elementos da nova cultura pós-moderna que influenciam no processo de evangelização dos jovens e no fenômeno da indiferença de uma parcela da juventude face à Igreja. (...) A evangelização da juventude interessa muito à Igreja e aos seus pastores. Temos um compromisso sério com a formação das novas gerações que, pressionadas por tantas propostas de vida, necessitam de muito discernimento,de coragem, de verdadeiros caminhos e, principalmente, de nossa presença amiga: “Os jovens têm o direito de receber da Igreja o Evangelho e de ser introduzidos na experiência religiosa, no encontro com Deus e no contato com as riquezas da fé cristã. E os pastores da Igreja têm grande desejo de lhes comunicar a Boa-Nova de Jesus Cristo e de acolhê-los na comunidade eclesial”. Estamos certos de que o presente e o futuro da própria Igreja dependem desta nossa opção “afetiva e efetiva” por eles, como, também, a nossa sociedade progredirá à medida que puder contar com cidadãos verdadeiramente capacitados a testemunhar, defender e propagar os valores do Evangelho, todos eles a favor da vida plena para o ser humano. (...) Desejamos, juntos, abrir caminhos para favorecer o desenvolvimento dos jovens, quanto ao anúncio do querigma, à educação aos valores cristãos, à formação bíblica e teológica, à iniciação à vida litúrgica, ao ensino religioso nas escolas e universidades, à educação para a solidariedade e para a fraternidade; à superação de preconceitos; à educação psicoafetiva; à formação na ação e para a cidadania. Estamos convictos de que a formação da juventude contribui para a promoção da dignidade de sua vida em todos os aspectos [6] .

FORTE (2005), diz que a Igreja provém da Trindade, é estruturada à imagem da Trindade e ruma para o acabamento trinitário da história. (...) A Igreja vem da Trindade: o universal desígnio salvífico do Pai, a missão do Filho, a obra santificante do Espírito edificam a Igreja como “mistério”, obra divina no tempo dos homens, preparada desde as origens, reunida pela Palavra encarnada, sempre de novo vivificada pelo Espírito Santo. A Igreja é ícone da Trindade Santa: por uma “não-mediocre analogia”, ela é comparada ao mistério do Verbo encarnado, na dialética do visível e do invisível, ao mesmo tempo em que a sua “comunhão” – una na diversidade das Igrejas locais, dos seus carismas e ministérios – reflete a comunhão trinitária. (...) A Igreja orienta-se para a Trindade: é Igreja dos peregrinos na conversão e reforma contínuas, em comunhão com a Igreja celeste, preparando-se desde já para a glória final [7] .

Em Medellín, a Igreja vê na juventude a constante renovação da vida da humanidade. A juventude é o símbolo da Igreja, chamada a uma constante transformação de si mesma. Por isso ela se esforça por desenvolver uma pastoral de conjunto, uma Pastoral da Juventude autêntica.

Em Puebla, a Igreja diz que a juventude é uma atitude face à vida na sua etapa transitória e destaca seus traços mais característicos: seu espírito de aventura, sua capacidade criadora, seu desejo de liberdade, o fato de serem sinal de alegria e felicidade, exigindo autenticidade, simplicidade e humildade. A Igreja confia nos jovens, sendo eles a sua esperança. Eles são os dinamizadores do corpo social e do corpo eclesial, por isso a Igreja faz a evangélica opção preferencial pelos jovens com vistas à sua missão no continente.

Em Santo Domingo, a Igreja quer abrir espaços de participação para a juventude através de uma pedagogia da experiência, promovendo o protagonismo através do método VER-JULGAR-AGIR-REVER-CELEBRAR.

Em Aparecida, a Igreja propõe aos jovens o encontro com Jesus Cristo vivo à luz do Plano de Deus, que lhes garanta a realização plena de sua dignidade de ser humano; privilegiando na Pastoral da Juventude processos de educação e amadurecimento na fé como resposta de sentido e orientação de vida. A Pastoral da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual, para a ação social e política e a mudança de estruturas, conforme o desejo do Papa João XXIII um mês antes da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II: “A Igreja se apresenta tal como quer ser: a Igreja de todos e particularmente a Igreja dos pobres”.

BOFF (1999), diz que a concepção trinitária de Deus nos propicia uma experiência global do mistério divino. Cada ser humano se move dentro de uma tríplice dimensão: na transcendência, da imanência e da transparência. Pela transcendência ele se ergue para cima, rumo às origens de si mesmo e às referências supremas. O Pai emerge nesta experiência, pois Ele é o Deus da origem sem ser originado, é o Deus do princípio sem ser principiado, é o Deus da fonte da qual tudo promana. É a referência última. Pela imanência o ser humano se encontra consigo mesmo, com o mundo a ser organizado, com a sociedade que ele constrói em relações horizontais e verticais. A imanência constitui o espaço da revelação humana. O Filho é por excelência a revelação do Pai; em sua encarnação assume a situação humana como é, em sua grandeza e decadência. Ele quer uma sociedade fraterna e sororal que reconhece suas raízes. Pela transparência queremos ver unida a transcendência com a imanência, o mundo humano com o mundo divino, a tal ponto que, respeitadas as diferenças, se façam transparentes. No esforço humano queremos experimentar o dom de Deus; anelamos por um novo coração e pela transformação do universo. O Espírito Santo constitui a força de amorização divina e humana, a transfiguração de tudo. Que seria o ser humano se não tivesse o Pai, se não se enraizasse em algo maior e não fosse envolvido num mistério de ternura e de aconchego? Seria como um bólido perdido no espaço e um peregrino sem rota e sem rumo. Que seria de nós, se não tivéssemos o Filho, se não soubéssemos de onde viemos, se não acolhêssemos a cada instante a vida recebida como dom, se não pudéssemos amar o Pai maternal ou a Mãe paternal? Que seria da pessoa humana se não tivesse relações dialogais e fraternas, se não pudesse abrir-se a um tu? Não seria apenas um peregrino sem rota e sem rumo, seria um caminhante solitário num mundo agressivo e opaco. Que seria do ser humano sem o Espírito Santo, sem um mergulho em seu próprio coração, sem a força de ser e de transformar a criação? Seria um peregrino sem entusiasmo e privado da coragem necessária para a caminhada. Sem o Espírito não poderíamos crer em Jesus nem entregar-nos confiadamente ao regaço do Pai. Assim como a transcendência, a imanência e a transparência constituem a unidade dinâmica e integral da existência, de forma análoga o Pai, o Filho e o Espírito Santo se unificam integradoramente na comunhão recíproca plena e essencial. Cada pessoa humana surge como imagem e semelhança da Trindade; o pecado introduz uma ruptura nesta realidade, sem destruí-la totalmente. A sociedade foi eternamente querida por Deus para ser sacramento da comunhão trinitária na história; o pecado social e estrutural denigre esta vocação que sempre permanece como um chamamento a ser atendido mediante as libertações históricas que visam criar as condições para que o Pai, o Filho e o Espírito Santo possam ser significados no tempo [8] .

A juventude experimenta a Trindade como o centro ardente da fé pois ela vem dos Apóstolos; a mesma fé trinitária que a Igreja sempre professou a partir de Jesus de Nazaré.

[1] TREVISOL, Jorge. O Mesmo Rosto. Intérprete: Artistas Capixabas. In: DNJ - DIA NACIONAL DA JUVENTUDE. 25 anos da PJ Capixaba - Chega de Violência e Extermínio de Jovens. Vitória: Independente, 2011, 1DVD, faixa 1.

[2] CELAM - Conselho Episcopal Latino-Americano. Seção Juventude - SEJ. Civilização do Amor: Tarefa e Esperança. Orientações para a Pastoral da Juventude Latino-Americana. São Paulo: Paulinas, 1997.

[3] A UNESCO defende esta concepção.

[4] DICK, Hilário. Gritos Silenciados, Mas Evidentes - Jovens Construindo Juventude na História. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

[5] LIBANIO, J.B. Jovens em Tempos de Pós-Modernidade - Considerações socioculturais e pastorais. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

[6] CNBB. Evangelização da Juventude - Desafios e Perspectivas Pastorais. São Paulo: Paulinas, 2007.

[7] FORTE, Bruno. A Igreja Ícone da Trindade. 2a.ed. São Paulo: Loyola, 2005.

[8] BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade. 5a.ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

Emerson Sbardelotti

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